Jornal Valor Econômico

‘O brasileiro tende a valorizar o mármore que vem de fora, mas estamos trabalhando para mudar essa lógica’

O que o Palácio do Planalto, em Brasília, a Pinacoteca de São Paulo, a estação central do metrô em Berlim e a flagship da Gucci em Milão têm em comum? O piso, feito de mármore de uma mesma marca paranaense: a Michelangelo Mármores do Brasil. Os revestimentos são extraídos de quatro jazidas no estado e ganham o mundo: Estados Unidos, Europa e Ásia. Embora 70% dos clientes sejam nacionais, há certa resistência interna. “O brasileiro tende a valorizar o produto que vem de fora. Mas isso está mudando. Estamos trabalhando para inverter essa lógica e mostrar que o mármore é uma joia natural do Brasil”, afirma Priscila Fleischfresser, Diretora da empresa. Acompanhe.

A pedra natural brasileira é mais valorizada no Exterior do que no mercado interno?

Priscila Fleischfresser — Sim, o Brasil é um país com tradição na exportação de pedras ornamentais e é muito reconhecido por isso. Por outro lado, o brasileiro tende a valorizar o produto que vem de fora, mas isso está mudando. O problema é a falta de conhecimento das pessoas, porque a referência ainda é o produto que vem do exterior. Estamos trabalhando para inverter essa lógica e mostrar que o nosso mármore é uma joia natural do Brasil.

Qual o tamanho da sua empresa hoje?

Meu pai comprou as minas em 1990, mas elas já existiam desde os anos 1940. Investimos em tecnologia para extração e adotamos uma estratégia de negócios verticalizada, controlando todas as etapas da cadeia. Nossa produção anual é de 150 mil metros quadrados de mármore, em quatro tipos diferentes. Exportamos 30% para Estados Unidos, Europa e Taiwan.

Como descobriu que seu mármore estava na Gucci em Milão?

Foi uma prima que visitava a cidade, entrou na flagship deles na Via Montenapoleone e me ligou. E não só em Milão: todas as lojas da grife no mundo têm nossa variação no tom bordô, desde a Europa, Catar e até no Japão!

Mas como eles chegaram até vocês?

Uma grande fabricante italiana de mármores nos procurou e marcamos um encontro em Verona (ITA), para apresentar nosso produto. Nós os convidamos para conhecer a jazida e a capacidade produtiva em Curitiba, eles vieram, aprovaram, fizeram o primeiro pedido, mas não disseram para qual marca seria usado – havia uma questão de sigilo da parte deles. Depois, foram três anos de compras frequentes, cerca de 3 mil metros quadrados no total.

Exportar para a Itália, berço do famoso mármore de Carrara, dá um peso diferente para a marca?

Chancela muito a qualidade do nosso produto. Ainda mais porque nosso distribuidor local exporta bastante a nossa pedra para Alemanha, que é um dos mercados mais exigentes do mundo. Para a Itália, são 5 mil metros por ano e vem crescendo.

Além da Gucci, quais outras marcas de luxo são seus clientes?

Há muitos empreendimentos imobiliários e hotéis. Em Londres, fornecemos pisos de cozinha para todos os apartamentos do One Hyde Park. Em São Paulo, 90% dos mármores utilizados no Cidade Matarazzo (complexo que inclui edifício corporativo, residencial e uma unidade do hotel Rosewood) são nossos. Palácio Tangará, na capital paulista, Emiliano e Fairmont no Rio, e o Nomaa, em Curitiba também.

E fornecemos para muitos prédios públicos, como o Palácio Iguaçu e o Tribunal de Justiça, ambos em Curitiba (PR); a Pinacoteca do Estado e a ALESP, em São Paulo; o Palácio do Planalto, da Alvorada, o Supremo Tribunal Federal e a Catedral de Brasília.

Como chegou na Capital Federal?

Nos anos 1950, Juscelino Kubitschek – antes de ser presidente –, visitou o Palácio Iguaçu, inaugurado em 1954 e que teria servido de inspiração para a construção de Brasília. Na visita, gostou tanto da ideia do mármore que acabou usando no Alvorada (1958) e Planalto (1960).

Ter participado do Cidade Matarazzo agregou valor à marca?

Sem dúvida, é uma obra muito importante porque tem no seu conceito a valorização do que o Brasil faz de melhor em termos de arte, gastronomia, cultura e design. Mais de 90% do empreendimento conta com nossos mármores.

Os revestimentos, de uma maneira geral, ganharam status mais sofisticado nos últimos anos. Por quê?

No nosso caso, entendo que o mármore não é só um revestimento, mas uma obra de arte da natureza que o ser humano precisa apenas lapidar. É como uma joia e deveria ser tratada assim. O Brasil tem um mármore de qualidade incomparável a nível mundial, que pode ser transformado em peças de design únicas.

A pedra natural é considerada um revestimento de luxo?

A pedra natural traz uma exclusividade aos ambientes porque cada corte resulta em um revestimento único. No caso do mármore, nunca um será igual ao outro e isso agrega muito valor aos projetos de interiores.

Você percebe uma valorização maior da sustentabilidade no mercado de interiores atualmente?

Sim, com certeza. Nossos clientes querem saber da origem, do processo de fabricação, buscam produtos atemporais, com ciclo de vida longo e regionais – produzidos e consumidos na mesma região. Esta é uma tendência bastante forte.

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